Há uma extensa lista de trabalhos já realizados e publicados na área e que
versam sobre uma gama significativa de autores e autoras, das mais diversas nacionalidades, bem
como suas respectivas obras. Para lembrarmo-nos dos mais representativos, os registros acerca da face afro da
literatura brasileira são incipientes ou, quando existentes, pouco expressivos. O primeiro volume de Literatura e afrodescendência no Brasil cobre um amplo período,
reunindo os chamados “precursores”: escritores e escritoras nascidos entre o século XVIII e a
década de 1930. O recorte temporal se justifica por razões óbvias. Estando na condição de
escravizado; de homem livre na sociedade escravocrata; ou, então, já no século XX, como
insipiente detentor de direitos, em difícil processo de integração na ainda embrionária sociedade
de classes brasileira, o negro possuía curto espaço para se expressar, seja em prosa ou verso, bem
como para publicar seus escritos. A despeito deste cenário, muitos falaram, escreveram e tiveram
seus textos veiculados entre o público leitor. É o caso de José da Natividade Saldanha, Francisco
de Paula Brito, Gonçalves Dias, Silvério Gomes Pimenta, Auta de Souza, Nascimento Moraes,
Ildefonso Juvenal, Antonieta de Barros, Carolina Maria de Jesus, entre tantos outros, que
compõem o primeiro número da coleção. Nesse sentido, o livro que inaugura a antologia inclui
registros daqueles que, mesmo não tendo assumido de forma explícita um projeto literário afro-brasileiro,
apresentam traços discursivos que os colocam, em alguma medida, num espectro
sociocultural distinto daquele veiculado pelas elites brancas.
O segundo volume, por sua vez, intitulado “consolidação”, parte da produção literária do
poeta e ficcionista Oswaldo de Camargo, um dos mais destacados autores negros das últimas
décadas, e discorre acerca de escritores e escritoras nascidos nas décadas de 1930 e 1940, com
publicações a partir da segunda metade do século XX. Entre eles estão Mãe Beata de Yemonjá,
Domício Proença Filho, Martinho da Vila, Antonio Vieira, Maria Helena Vargas, Joel Rufino
dos Santos, Muniz Sodré, Nei Lopes, Adão Ventura, Conceição Evaristo e Paulo Colina, autores
cujos registros literários se distinguem da cronologia apresentada inicialmente, constituindo,
assim, um momento particular de solidificação da vertente afro na literatura brasileira. Ao todo,
o volume apresenta trinta escritores de diferentes estilos, mas que se aproximam ao oferecerem
temas, linguagens e perspectivas balizadas pelo pertencimento étnico e pelo propósito de
construir, em definitivo, escritos marcadamente afrodescendentes.
O terceiro volume, intitulado “contemporaneidade”, completando a relação de autores
levantados ao longo da pesquisa, compreende aqueles nascidos já na segunda metade do século
XX, tendo, a grande maioria, textos publicados nos últimos vinte anos. Este número reúne a vida
e obra de escritores e escritoras que se voltam para a afirmação de uma literatura negra ou afro-brasileira,
propriamente, mas que se diferenciam dos demais autores e autoras apresentados nos
volumes anteriores, por serem conscientes de sua condição de minoria, perante o conjunto da
sociedade, e por percorrem caminhos alternativos para atingir seus leitores, como a utilização de
sites, blogs e redes sociais. Nomes como Cuti, pseudônimo de Luiz Silva, Mirian Alves,
Esmeralda Ribeiro, Sônia Fátima da Conceição, Abelardo Rodrigues, todos lançados nos três Cadernos Negros, estão em destaque, além de outros, ligados a demais grupos, e que são mais
conhecidos em seus Estados de origem, como Éle Semog, José Carlos Limeira e Jônatas da
Conceição. Aparecem, ao mesmo tempo, escritores desvinculados do grupo paulistano
Quilomb , como Edmilson de Almeida Pereira, Salgado Maranhão, Paulo Lins, Luís Carlos
de Santana e Ana Maria Gonçalves, além de jovens escritores, como Cidinha da Silva, Sacolinha
e Jussara Santos, cuja produção literária mais recente vem carregada por uma temática
predominantemente urbana e mais voltada para as populações marginalizadas das grandes
metrópoles brasileiras.
Encerrando a coleção, o quarto e último volume traz uma série de depoimentos e
reflexões, com base em percepções diferenciadas entre si e até mesmo contrastantes, de autores
contemporâneos empenhados na construção da vertente afro-brasileira na literatura nacional.
.
PRINCIPAIS OBRAS E AUTORES
Manuel Inácio da Silva Alvarenga (1749-1814). O poeta expressou uma visão negativa do homem negro, nas poucas vezes em que comentou esse tema. Obras: O Desertar, poema herói-cômico (1774), Glaura(1799).
Antônio Gonçalves Dias (1823-1864). O tratamento do tema do negro se dilui em sua poesia, principalmente quando a imagem heroicizada do índio é erguida como símbolo do nacionalismo brasileiro. Dentre as obras de Gonçalves Dias podemos citar: Primeiros cantos (1846), Segundos cantos e Sextilhas de Frei Antão (1849), Os Timbiras (1857).
João da Cruz e Souza (1861-1898). A obra poética de Cruz e Souza representa o ponto alto do Simbolismo brasileiro e inclui os livros Broquéis (1893), Missal (1893), Faróis (1900), Últimos sonetos (1905).
Carolina Maria de Jesus (1914-1977). Aliou criação literária e experiência de vida para compor uma obra que está a merecer análises mais detalhadas: Quarto de despejo (1960), alcançou repercussão internacional, revelando uma produção de caráter documental e de contestação social. Seus livros seguintes foram Pedaços de fome (1963) e Diário de Bitita (1986).
Domingos Caldas Barbosa (1738-1800). Escreveu modinhas, lundus e seus poemas foram preparados para serem cantados. Radicou-se em Lisboa, onde pertenceu à Nova Arcádia Lusitana. Obras: Epitalâmio (1777), Viola de Lereno (1798).
Maria Firmina dos Reis, nascida no Maranhão, situa-se no século XIX. Em 1859 a autora publicou o romance Úrsula, atribuindo aos escravos participação importante no enredo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário